Você já comeu manteiga pura?
« Voltarquarta-feira, 18 de maio de 2016
Você já comeu manteiga pura?
Sabe quando você come um pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate e fica um pouco de chocolate nos dedos, e você se delícia com essa última parte do bolo que te sobra? Às vezes, tenho a impressão de que de propósito deixo que meus dedos se sujem para que eu aprecie dos “dedos com cobertura de chocolate”. Dia desses fiz isso com manteiga, ficou um pouco de manteiga nos meus dedos, levei à boca como se fosse a única alternativa que eu tinha. Que coisa horrível! Parece que nem de comer é. Mas no pão, na bolacha água e sal, toma outro gosto, fica bom.
Algumas coisas simplesmente não funcionam sozinhas, ou não fazem sentido, não oferecem o seu “potencial”. Já pensou em beber um sachê de catchup? Mas pensa num sachê junto com uma coxinha quente. A coxinha dá sentido ao catchup, o catchup agrega sabor à coxinha.
“Existem duas coisas que não podemos fazer sozinhos: uma é casar e a outra é ser cristão.” (Paul Tournier).
Jesus nos deu a condição de fazer parte do corpo d’Ele, unidos uns aos outros como os membros de um corpo. O sentido de ser cristão está nos relacionamentos. No relacionamento com Deus, na transformação que Ele promove em nós e na aplicação disso com nossos semelhantes. Se a fé é provada no fogo, o relacionamento humano é onde a fé é provada. É onde a transformação que acredito ter acontecido em mim é testada. Não pelos outros. Mas por mim mesmo.
É quando preciso amar alguém difícil de ser amado que posso ver como o amor de Deus é infinito, afinal, também sou uma pessoa difícil de ser amada. Quando a ideia do perdão deixa de ser uma ótima filosofia e precisa ser praticada, a custa do orgulho, da mágoa, da dor é que eu posso me virar para a cruz de Cristo e compreender que o perdão cheira a sangue. É perdoar aqueles que não merecem perdão a não ser que seja dado gratuitamente.
As relações humanas, mesmo que seja uma proporção micro em relação ao macro amor de Deus, concedem a oportunidade de testar em mim o amor que eu julgo conhecer. A parábola do servo cruel nos mostra isso. Um servo que devia ao rei clamou por misericórdia, pois não tinha como pagar sua dívida. O rei foi misericordioso e o perdoou. Mas ao sair dali, o mesmo homem que recebeu o perdão, não perdoou um homem que lhe devia. É através da forma como me comporto com o outro que vejo o sentido da fé (Mt 18: 23-35).
Lewis nos aconselha a analisar nossos reais motivos em afirmar que preferimos os animais aos homens. Convenhamos que é muito mais fácil eu me relacionar com meu cachorro, que perdoa com a mesma naturalidade que ele come, do que com qualquer outra pessoa que eu magoe e precise pedir perdão. Pessoas são difíceis, muitas vezes encontram prazer em guardar mágoa de alguém. Não é como Deus. Ele tem pressa em perdoar, pois quer usar seu tempo amando.
Cristo viveu com homens difíceis de conviver. Tomé duvidou, Judas traiu, Pedro negou. Citando apenas três exemplos de homens que andaram com Ele. A fé não nos blinda, de ser traídos, negados, acusados. Na verdade, a fé exige que permaneçamos firmes em todas essas situações. Não são os hipócritas que nos expulsam da igreja, mas a forma como lidamos com eles. A forma como eu me torno um hipócrita dentro da igreja querendo defender o que é meu e não o de Cristo.
É na relação humana, que eu posso me assemelhar com Deus. Porque muitas vezes a relação humana só se sustenta quando eu tenho que pensar como Ele. Agir como Ele. Perdoar como Ele. Amar como Ele. É onde a fé é provada. É onde a manteiga se une ao pão. O catchup à coxinha. Certamente encontraremos com alguém que nos fará repensar não a fé, mas como eu me comporto como homem de fé.
“Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser Cristão sozinho”.